Recebi a sua carta de não sei quando mas não tenho cabeça para nada. A zoina silva sobre mim despedaçadoramente. Fiz ontem um disparate sem nome: como se rasgasse uma nota de mil francos: talvez depois lhe conte – psicologia arrevesada e brutalidade sem nome. Hoje, numa necessidade de dar murros e pinotes não em resultado do que fiz ontem mas em resultado disso e mil outras pequenas coisas – nova loucura: um telegrama ao meu pai pedindo 1000 francos para partir para Lisboa. É como dantes, em minha casa, quando partia os pratos. Não sei ainda se mandarei o telegrama. Já o tenho escrito – mas não sei nada. Não sei se partirei. Não sei nada. Perdoe. Recebi a sua carta ontem.
Adeus.
Até breve.
Abraços.
o seu, seu
M. de Sá-Carneiro
Não lhe dizia que estava doido!
Vivo há semanas num inferno sem nome.