Bilhete-postal enviado de Paris, no dia 27 de Julho de 1914.
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Paris – julho 1914 Dia 27
Bilhete-postal – P. S. – à carta de hoje
Esqueceu-me de lhe citar entre os títulos possíveis para o novo volume, este – talvez o melhor, senão ele próprio, o bom: Novelas Falsas. Diga a sua opinião. Lembrou-me agora, de súbito, ao entrar para casa, que nesse volume cabe também, pode ser, o «Mundo Interior» tratado doutra maneira: o narrador conhece um homem (o narrador aqui aparentemente «burguês», isto é: criatura sem complicações psicológicas – talvez um «professor» de matemática ou de física) trava conhecimentos no café com um homem que lhe fala só da sua alma e lhe conta como viaja no seu mundo interior. Um dia esse homem desaparece (como por exemplo desapareceu aquele meu amigo a que aludiu na «Grande Sombra») e a única explicação que o seu companheiro encontra em vista das buscas da polícia improfícuas, é esta: que ele terá desaparecido no seu mundo interior – donde o inconveniente de ser complicado de mais, de ter psicologia a mais, de pensar de mais sobre si próprio... Não é verdade que esta novela podia caber no livro? Que lhe parece? – Tenho trabalhado todos os dias na «Grande Sombra» que deve estar concluída pelos fins de Agosto. Comecei logo a tirar a cópia que você deve receber aí por 10 de setembro, 15, o mais tardar. E agora parece-me que não tenho mais nada a dizer...
Um grande abraço a mais em Alma e Ouro
do seu, seu
Mário de Sá-Carneiro
Saudades do Carlos Franco.