Carta enviada de Lisboa, a 30 de Outubro de 1913.
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Lisboa – Outubro de 1913
Dia 30
Meu querido amigo,
– Você sabe que os verdadeiros mártires levam a sua cruz até ao fim... sobem todo o calvário?
Muito bem.
Então oiça:
Por amor de Deus, e pensando você na salvação Eterna – veja se lhe será possível, sem grave transtorno, aparecer-me cá amanhã 31 a qualquer hora ou de manhã ou à tarde.
Já desconfia porquê, não é verdade? É por isso mesmo.
Amanhã tenho provas dispersas da
Dispersão
que, se você lhe não vale, é claro, então positivamente se dimanará em gralhas tipográficas!
Vamos, cinja mais uma coroa de espinhos S. Fernando
(pessoa revisora de provas)
Ao que estão condenadas as almas Geniais!...
Valha-me, meu amigo! Socorro! Socorro! Socorro!...
Posso contar consigo, não é verdade?...
Um grande, grande abraço do Sá-Carneiro
P.S. – Em todo o caso, se lhe não for possível aparecer... paciência... Nem por isso perderá o céu – que de há muito, pelo que me tem feito, o ganhou, você, meu querido amigo.
P.S. – Conforme carta deixada Brasileira já estou de novo instalado em casa e assim podem recomeçar as suas visitas a qualquer hora.