[BNP/E3, 144 – 76]
O Soneto
Ninguém – a não ser Milton – teve tão perfeito como Bocage o corte do soneto. Os sonetos de Antero, os de Shakespeare são maiores – muito maiores, na verdade; mas, analisando-os bem, não tem a vida, como sonetos, que tem os de Bocage – um movimento rítmico que domina todos os versos, fechando-os perfeitamente no último. O soneto pode ter grande perfeição de forma sem ter um corte como soneto, muito perfeito. São exemplos os sonetos de Heredia, a que falta quase completamente o corte do soneto, tenha as rimas como tenha.
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Dos sonetos terminados em parelhas há exemplos esplendidos na língua inglesa [e mesmo na francesa]. Em português [estamo-nos referindo ao corte do soneto] temos (e aqui alguém possui sonetos com corte tão perfeito para acabar em parelhas) o “Ao Cair das folhas” de António Nobre: [Citar]
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Numa certa rapidez – {…} eis em que consiste essa inanalisável coisa a que chamamos o corte do soneto. A quem tiver bem apurado o sentido do ritmo poético não lhe custará a perceber se é mau ou bom o corte dum soneto qualquer.
Eis um soneto de Braga – longe de ser dos melhores. Escolhe ser onde a ordem e o ritmo são melhores e {…} para melhor sobressair o ritmo do corte: –
(CLI) ? – o corte não é perfeito.
Compare-se o seguinte soneto de José Anastácio muito melhor, mas muito inferior no pensamento do corte:
(Soneto de José Anastácio)