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Fernando Pessoa
Cota
BNP/E3, 14-3 – 58
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[Sobre os diferentes tipos de narrativas]
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Autor
Fernando Pessoa

Identificação

Titulo
[Sobre os diferentes tipos de narrativas]
Titulos atríbuidos
Edição / Descrição geral

[BNP/E3, 143 – 58]

 

Para designar aquelas narrativas, de que se não quer dizer que sejam distintivamente história – se de história há alguma coisa mais que a pretensão simples de fazê-la – usa-se ordinariamente de duas vozes – legenda, e lenda. Ambas se derivam do latim legenda, coisas para se lerem. Porém, entre nós, cabe a designação de lenda mais particularmente a uma narrativa dessa ordem, e que se deu, ou que já tivesse, uma feição popular, e a de legenda a uma narrativa, por igual modo afastada do propósito da verdade, porém mais propositalmente delineada e feita.

Sendo estas narrativas – se até de narrativas merecem o nome – meras ficções, nem havendo nelas nenhum elemento do tradicional ou do popular, que não o simples arcaboiço abstracto, de que cada uma se forma, pareceu-me bem o chamar-lhes legendas, que não lendas. O mesmo facto de nelas se esbater a narrativa no comentário explícito ou implícito faz com [que] se elas conformem ainda mais até ao primitivo sentido da palavra legenda.

Que, em resumo, a legenda não é mais que um mito. E, como há mitos que nascem da imaginação popular e colectiva, ou que, por anónima e de índole popular, tal se supõe, assim também os há que são da determinação inteligente de quem os forma. Propunha Platão que os poetas e os filósofos se dedicassem, para instrução dos outros, à ficção destas narrativas. Não me propus o seguir, nestas narrativas, o conselho de Platão, pelo menos quanto ao fim a que ele o destinava. Propus-me, sim, o extrair de esta ou de aquela figura histórica ou mítica uma lição qualquer que me pareceu inerir nela, ou nela poder inerir. Até este ponto parece ter sido didáctico o meu fim. Não o foi, porém. Propus-me extrair lições, porém não para que servissem de lição. O produzir contemplação é o fim supremos de toda arte. Se consegui esse fim, não sei; sei apenas que fiz por consegui-lo.

 

Notas de edição
Identificador
https://modernismo.pt/index.php/arquivo-almada-negreiros/details/33/4452

Classificação

Categoria
Literatura
Subcategoria

Dados Físicos

Descrição Material
Dimensões
Legendas

Dados de produção

Data
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Idioma
Português

Dados de conservação

Local de conservação
Biblioteca Nacional de Portugal
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