[BNP/E3, 141 – 47]
O que se chama a poesia lírica, isto é, a poesia que procede de um impulso emotivo do poeta e o objectiva sem o generalizar, {…}
Chama-se propriamente poesia lírica àquela que procede de um impulso do poeta e o objectiva sem o generalizar. Se o generaliza, de um modo ou de outro, é já propriamente, e por menos que ritmicamente o pareça, poesia didáctica.
O poeta lírico não deve pensar, ou, melhor, deve não pensar. Seu mister é dizer o que sentiu, sem se abalançar a dizer porque o sentiu, ou para que serviu o senti-lo. O poeta lírico sente porque sente, e não lhe serve de nada.
Estas frases não contêm, nem é de supor que possam conter, desprimor algum para a poesia lírica. Cada coisa está em seu género como deve estar nesse género. Estar com um pé num lado e outro em outro pode ser a vantagem para o equilíbrio físico; não o é para o psíquico. Não se ofende, com a observação acima feita, nem a grande sombra de Píndaro, nem os manes menores de Horácio.