[BNP/E3, 14E – 27]
A Vigária.
Acabo de não poder ler La Jeune Parque de Paul Valéry. Igual coisa me tem sucedido com outros versos deste poeta, de sorte que a minha incompreensão não me foi novidade. Desejo, porém, para minha tranquilidade mental, analisar essa incompreensão. É o que vou fazer, de Mallarmé para cá, pois o poeta de nossos dias não é mais que a continuação idêntica do célebre simbolista.
Toda a obra de arte, creio – e creio porque o penso – é {…}
É uso, em certas terras de província, transportar ao apelido do marido, quando nos referimos à mulher, o feminino, se esse apelido é masculino. Assim a uma Maria, mulher de um José Preto, muitas vezes chamarão a Maria Preta. Usando deste douto exemplo – pois, estando nós em época de propaganda democrática, o povo é que dá a doutrina – direi que a poesia de Mallarmé e de Valéry é uma Vigaria. Digo-o sem ofensa alguma à memória do grande português que inventou, praticando-o, o Conto do Vigário.