[BNP/E3, 14C – 10-10a]
Fialho (Crónicas Anormais)
A musa da sua prosa é uma bacante saloia.
Um iniciador – um imperfeito e um incompleto portanto, como os simbolistas e os congéneres, como os proto-românticos. William Blake, que é um Pascoaes nascido antes de tempo, com que imperfeições e promíscuos e confusos impérios laiva a sua grandeza de poeta místico.
[10ar]
Fialho não era um gentleman. Era um maltês de génio, que, quando fora da tripeça em que sibilava, cheirava ao suor da banalidade e ao |chulé| da indecência.
A arte é aristocrata. Afinal de tudo é mais tolerável anotar num salão do que num |parágrafo|.
[10br]
Pode parecer que nada tem a educação – no sentido de |savoir-vivre| - com o manejo de uma pessoa. Mas uma “pessoa” não é um bocado de madeira tido nos pés com lodo e aço embolado num bípede escuro.
(Para manejar bem uma enxada importa alguma coisa ter nos músculos dos braços alisas do movimento cavante)
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Muito português?
[10cr]
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É uma má influência.
Olhem: apareceu por ali há pouco, e desapareceu[1] – creio que por brutalidade do[2] sr. Afonso Costa – um folheto chamado A Cambada por descobrir a nossa intenção de causalidade eficiente. Parece escrito por profissionais da vingança e cada qual numa {…}
É tão pavoroso que só não é mais para não ter o mérito de ser sublime por pavoroso.
[10v-10av]
= Fialho de Almeida – o Imperfeito.
= Mesmo os Ceifeiros tem qualquer coisa de quase, um podia-ser-melhor ocorre no crítico que lê esse trecho.
= Que ordinário e {…} de incompreensão foi Fialho antes das Horas e logo dos Contos. Que burguesmente da sua época. Então os génios não são para se adiantar à inteligência ordinária do seu tempo? Então os génios são poucos.
Fialho era um provinciano, foi no que escrevia e isso é que é intolerante. Nas suas maiores subtilezas há grosserias (e.g. {…}
Falta Europa à sua arte. O seu horizonte é Portugal.
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[1] desapareceu /morreu\
[2] por brutalidade do /a burrice do\