[BNP/E3, 14C – 8]
Diário de Vicente Guedes
11 de Maio de 1914
(22-8-14)
Vieram dar-me hoje a notícia de que morreu Fialho de Almeida. Foi há 3 anos, parece, mas quem, como eu, não vive anexo às variações da imoralidade do meio, pouco ou nada sabe, senão por acaso, a respeito das flutuações, como {…} e mortes, no mercado dos pederastas.
Em todo o caso, como ele morreu, e era colega, porque escrevia, não quero deixar de pôr aqui umas notas dignas dele, e tando quanto possível à maneira dele, tratando-o como ele tratou os mortos. Assim estas minhas
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palavras serão como que uma continuação da atitude dele, fá-lo-ão ressuscitar temporariamente, parecerá (salvo o melhor do estilo, sobretudo quanto a ordem e linha) que é ele próprio que, desdobrado, acorda, e vai escrever sobre |o conhecer de| si-próprio.
A figura de Fialho de Almeida forma-se de 3 elementos: era um homem do povo, um pederasta e um grosseirão, criatura da estepe alentejana, com calos na sensibilidade humana, e uma depressão onde devia ter a bossa da delicadeza. Tirante o amor à paisagem e aos homens, nada o atraia para nada, metido sempre na {…}