Fernando Pessoa
Medium
Fernando Pessoa
BNP-E3, 19 - 66
BNP-E3, 19 - 66
Fernando Pessoa
Identificação
Erostratus

[19 – 66]

 

Erostratus.

 

There is much more to be said for Edgar Wallace, as a clear human type, than for Bernard Shaw. Edgar Wallace sits firm on his little stool, but Shaw has fallen between all the stools. He is too witty for to-day and not witty enough for to-morrow. The essential reason is that he is a morbid human type; his ideal of society suffers to show he is a lucidly hypochondriac of the ideal. He uses talent for the ends of wit and gives it a sound of genius. He has a bit of each element, with a predominance of wit, which would have made him great indeed, if he had not the degrading seriousness of talent, which in him takes the untoward form of propaganda, an attitude towards life which only the unwitty generally adopt.

 

His propaganda has been very good propaganda, but it has, after all, been no more than propaganda. He set himself up as the advertising manager of his “ideas”[1], and his plays are no more than the layouts of his advertisements. There are things quite worthy of Shaw, and sometimes better because purer, in the advertisements of the best American publicity agents; but the right intuition lies with the business men, who know that their wit will not, and need not, survive the high commercial effect and the speed of the present necessity.

  

[19 – 66]

 

Heróstrato.

 

Existe muito mais a dizer em favor de Edgar Wallace, enquanto um tipo humano determinado, do que em favor de Bernard Shaw. Edgar Wallace senta-se firmemente no seu banquinho, mas Shaw tem caído entre todos os banquinhos. Ele é demasiado sagaz para os dias de hoje, mas não o suficiente para o amanhã. A razão essencial é que ele é um tipo humano mórbido; o seu ideal de sociedade sofre por mostrar que ele é um hipocondríaco lúcido do ideal. Usa o talento para fins da sagacidade e dá-lhe um tom de génio. Ele tem um pouco de cada elemento, com a predominância da sagacidade, que o teria efectivamente tornado grande, se ele não possuísse a seriedade degradante do talento, que nele assume a inconveniente forma de propaganda, uma atitude perante a vida que geralmente apenas os não sagazes adoptam.

 

A sua propaganda tem sido uma propaganda muito boa, mas, no fim de contas, não tem sido mais do que propaganda. Ele estabeleceu-se como o gestor de publicidade das suas “ideias” e as suas peças não são mais do que esboços dos seus anúncios. Existem coisas muito dignas de Shaw e, por vezes, melhores porque puras nos anúncios dos melhores agentes de publicidade americanos; mas a intuição correcta está nos homens de negócios, que sabem que a sua sagacidade não irá, nem necessitará de, sobreviver ao elevado efeito comercial e à velocidade da necessidade presente.   

 

 

[1] “ideas” /intentions\

https://modernismo.pt/index.php/arquivo-almada-negreiros/details/33/2499
Classificação
Literatura
Dados Físicos
Dados de produção
Inglês
Dados de conservação
Biblioteca Nacional de Portugal
Palavras chave
Documentação Associada
Publicação parcial: Fernando Pessoa, Páginas de Estética e de Teoria e Crítica Literárias, Textos estabelecidos e prefaciados por Georg Rudolf Lind e Jacinto do Prado Coelho, Lisboa, Edições Ática, 1966, pp. 213-214.
Publicação integral: Fernando Pessoa, Heróstrato e a Busca da Imortalidade, edição de Richard Zenith, Lisboa, Assírio & Alvim, 2000, pp. 171-172.