[BNP/E3, 142 – 9]
A influência francesa e a influência espanhola – por vezes, mesmo, a influência italiana – são as maldições da nossa literatura. Quando o bom elemento não nos vinha, ou directamente, no âmago da alma popular, vinha imediatamente dos antigos, ou da Inglaterra e da Alemanha.
A França e a Espanha, semelhantes a nós por qualidades que são em nós más (embora boas nelas) porque as temos ou em grau inferior, ou de qualidade inferior, agiram sempre dissolventemente e atrasadamente no nosso espírito. O mesmo, posto que de modo menos acentuado, acontece com a influência italiana.
Expliquemos melhor. A França age sobre nós pela vivacidade do seu espírito; ora nós não temos vivacidade de espírito, e quando a queremos ter, quedamos ou grosseiros ou inferiores. A Espanha age sobre nós pelo grandioso sentimental ou o requinte {…} (gongorismo) das suas concepções; ora a sentimentalidade grandiosa – tão realmente grandiosa, por vezes, no espanhol – é puramente ridícula em nós, e quanto à pompa da expressão, temo-la mais vazia e enojante do que os castelhanos.
[9v]
A influência italiana foi mais benéfica pelo que de clássico, de antigo e pagão, trouxe consigo. No que subtileza, requinte {…} – que é o que é propriamente italiano – foi, talvez, mais má do que boa a sua influência.
O primeiro benefício da influência inglesa veio do sentimento da natureza que está no primeiro plano da literatura desse povo. Ora é esse um dos primitivos sentimentos portugueses. O genérico toque português na velha lírica que vêem desde os Cancioneiros até Rodrigues Lobo, contém esta com um dos seus elementos. É escusado apontar, é claro, quão deletéria neste sentido foi qualquer das outras influências. O espanhol é qualitativamente incapaz de sentir a natureza. É um facto patente; assim o sr. A. † no seu livro _____________ Quote. Na literatura francesa (salvo na moderna) esse sentimento é apagado, e não vincado: de modo que não é por aí que o espírito francês age sobre os outros espíritos.