Identificação
[BNP/E3, 14C – 75]
O que distingue um Anatole France “é”, na transparência plácida do estilo, a pobreza seca[1] da invenção. A sua ironia é a de quem via as várias faces dos vários destinos e os reconheceu iguais e fúteis. O sinal dos mestres é, por isso, que reconhecem a futilidade dos destinos depois de lhes terem estado na alma.
Têm por isso, ainda que velada, a angústia cuja falta na ironia menor retira dela a substância espiritual.
_______
Todo homem incapaz de escrever um conto policiário é indigno da presença concedida ainda dos deuses da sagrada |era|.
[75v]
Equivale isto a dizer que Anatole France não era poeta. Foi-o, apologista, como foi socialista – para demonstração irreprimível da sua íntima fraqueza. Não conseguiu dominar os impulsos da sua impotência.
O papel da inteligência é enxovalhar a realidade.
[1] a /uma\ pobreza seca /avara\