Jornal manuscrito por Fernando Pessoa, de que se conhecem dois exemplares: o número 2, de 15 de Maio de 1902, e o suplemento do número 3, do dia seguinte (Pessoa por Conhecer, pp.130-133). Durante uma estadia de treze meses em Portugal (de Agosto de 1901 a Setembro de 1902), por ocasião de uma licença do padrasto, Pessoa e a família visitam a tia Anica nos Açores, permanecendo nove dias (de 7 a 16 de Maio) em Angra do Heroísmo. É aqui que o jovem arquitecta um «periódico» em que se assume como director, indicando como redactor o primo, Mário Nogueira de Freitas, então com apenas onze anos. Mas, no suplemento do nº 3, mostrando já a sua tendência para o desdobramento, acrescenta, entre parêntesis, ao seu nome como director, o de Dr. Pancrácio, personalidade com que continuará a assinar textos, pelo menos até 1905. O jornaleco, numa letra bem desenhada, evidencia, sem dúvida, um já muito bom domínio da língua portuguesa e o pendor de Pessoa para a escrita jornalística. O nº 2 inclui uma história humorística, «Adivinhou»; um poema, «Quando ella passa» de Dr. Pancrácio; charadas; e algumas notícias, em tom de bincadeira, tomando como protagonistas a irmã Teca e a prima Maria Nogueira de Freitas. O designado suplemento do nº 3 inclui, por sua vez, o relato do «Terrivel cyclone no Caes das Hotaliças», ocupando duas páginas e ilustrado com desenhos do referido cais, do batel «Valério» e do capitão Côrte Real, envolvidos no «acontecimento».

 

 

Manuela Parreira da Silva