Jornal manuscrito por Fernando Pessoa, de que se conhecem cinco exemplares (ver Teresa Rita Lopes, Pessoa por Conhecer, I e II, Lisboa, Estampa, 1990). Três números foram escritos em 1902 – nº 5, de 22 de Março; nº 6, de 24 de Março; nº 7, de 5 de Julho – numa altura em que o jovem Pessoa se encontrava em Lisboa com a família, por ocasião de uma licença do padrasto (de Agosto de 1901 a Setembro de 1902).  Outro exemplar, datado de Julho de 1903, feito em Durban, traz a indicação de nº 1. Existe ainda outro nº 1, este de 17 de Setembro de 1905, de uma altura em que regressara já definitivamente a Portugal. O jornal inclui, para além da secção charadística (presente em todos os números), anedotas, provérbios e adivinhas, correspondência, poesia e artigos científicos («Monstros da Antiguidade» de Fr. Angard; «A pesca das pérolas» do Dr. Caloiro). Pessoa desdobra-se em várias personalidades, tomando, assim, a voz dos numerosos colaboradores do jornal. Alguns, quase todos charadistas, colaboram com pseudónimo: Morris & Theodor, Diabo Azul, Gallião e Gallião Pequeno, Pec, Velhote, Nympha Negra, Parry, Cecília, Parry, F. Q. A., Pip, Scicio, Pad Zé. Dos dois últimos sabe-se mesmo o «verdadeiro» nome – Scicio é José Rodrigues do Valle, designado como Director Literário (n.º 5), Director (n.º 6) e Secretário (n.º 7); Pad Zé, também autor de anedotas, é o pseudónimo ora de Pedro da Silva Salles, redactor, ora do «Director Charadístico», Roberto Kóla (n.º de 1903).  Este desdobramento delirante de Pessoa, para fazer face às exigências de um «jornal», anuncia, sem dúvida, a futura heteronímia e o ecletismo da sua escrita. Destaquem-se, neste sentido, as colaborações do poeta luso-brasileiro Eduardo Lança que tem direito a uma biografia de Luís António Congo e do director literário (n.º 7) Dr. Pancrácio, charadista, contista, cronista, crítico e poeta, a sério e a brincar. Este é a única figura que continua activa em 1905, surgindo agora Gaudêncio Nabos e António Cebola (director e redactor).

 

 

Manuela Parreira da Silva