Esta personalidade fictícia surge como autor de um intitulado «Essay on Poetry – Written for the Eddification of Would be Verse writers», escrito em inglês, provavelmente entre 1903 e 1905. A caligrafia escolar é nitidamente a que Pessoa usava em Durban. Inicialmente, no manuscrito que se conhece (Pessoa por Conhecer, II, pp.15-162), o texto é atribuído ao Doctor Pancratium, nome que foi riscado e substituído pelo do Prof. Trochee. Trata-se de um procedimento habitual, ao longo de toda a vida literária de Pessoa, esta flutuação ou hesitação na atribuição de autoria dos seus escritos. Esta pode significar que Pessoa, depois de latinizar o seu Dr. Pancrácio, achou mais oportuno que o autor de um ensaio sobre rima e escansão tivesse um nome com sabor grego, remetendo claramente para troqueu (pé da prosódia greco-latina, composto por uma sílaba longa e uma breve). O «ensaio», incluído por Pessoa numa lista das suas obras como peça «de humor», apresenta um tom jocoso, embora revele já algumas das futuras linhas do pensamento pessoano, relativamente à verdadeira poesia. Assim, escreve: «A poesia devia encorajar o pensamento e apelar para a reflexão: nada melhor que o prazer do crítico quando, depois de um minuto de dissecação da composição, percebe, primeiro, que é poesia e não prosa, segundo, após um grande esforço, após um profundo exame, que é rimado e não branco». E, numa outra passagem, a propósito de um pedido de opinião sobre um poema que um amigo lhe fizera, conta que, ao tecer «copiosos elogios à excelência do verso branco», o seu amigo, «corado de indignação», lhe dissera que «a sua composição era rimada e, além disso, que se tratava dos chamados versos spenserianos» (trad. in Pessoa por Conhecer, II, pp.159-164).

 

 

Manuela Parreira da Silva